Faltam.....

Por que Lula ainda se arrisca tanto?

Ricardo Kotscho
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A 254 dias do final dos seus oito anos de governo, o presidente Lula alcança 76% de aprovação na pesquisa Ibope divulgada nesta quarta-feira, um ponto percentual a mais do que no levantamento anterior. Apenas 5% dos eleitores consideram sua gestão ruim ou péssima. Talvez nem ele mesmo pudesse prever este cenário ao tomar posse em 2003, cercado de desconfianças dos antigos donos do poder aqui dentro e lá fora.
Mesmo com todo mundo já careca de saber que Lula não pode nem quer disputar um terceiro mandato, com o nome da sua candidata há meses nas ruas e nos noticiários, a pesquisa espontânea do Ibope ainda dá o presidente na liderança, com 16% das intenções de voto, seguido por Dilma, com 15%, e Serra, com 14%. 
Imagino que qualquer outro governante numa situação tão favorável, em final de mandato, procuraria apenas se preservar, recolher os resultados dos excelentes indicadores econômicos e sociais já alcançados, e passar o pouco tempo que lhe resta no Palácio do Planalto só tocando a bola e correndo para os abraços de despedida.
Pois o presidente Lula está fazendo exatamente o contrário. Com um pique e uma agenda de quem está no início de governo, querendo fazer um monte de coisas ao mesmo tempo, entrando de cabeça nas bolas divididas da campanha eleitoral, age como se o seu próprio nome estivesse em jogo na urna eletrônica.
O lançamento agora de obras tão grandiosas quanto polêmicas, como a usina de Belo Monte e o trem-bala ligando São Paulo ao Rio, e as constantes viagens pelo Brasil e pelo mundo, colocam o presidente no centro do noticiário, em geral bastante crítico, ao lado das suas cada vez mais ousadas investidas na política externa e nos embates com a Justiça Eleitoral.
Que Lula não foge da raia, gosta de uma boa briga e de desafiar sempre o status quo, todos nós sabemos, desde que ele surgiu na vida pública como líder sindical na segunda metade dos anos 70 do século passado. Assim como não é comum os índices de popularidade de um presidente subirem ao invés de cairem em final de mandato, também não está nos antigos manuais de política este ativismo governamental exacerbado no momento em que o país começa a discutir a sua sucessão.
A única explicação que encontro para este aparente paradoxo está na mesma pesquisa Ibope em que o tucano José Serra sobe um ponto (foi para 36) e a petista Dilma Roussef cai um (para 29), alargando para sete pontos a diferença entre os dois principais candidatos, tudo dentro da margem de erro. No último Datafolha, da semana passada, a vantagem de Serra é de nove pontos.
Estamos apenas no início da pré-campanha e a candidata do governo, que nunca havia disputado uma eleição, já está no patamar histórico de largada do PT, algo em torno de um terço do eleitorado. Da mesma forma, o candidato da oposição mantem-se dentro da faixa de outro terço dos que não votam no PT. Até aí, está tudo dentro do previsível, como nos mostraram as últimas quatro campanhas presidenciais no país disputadas entre PT e PSDB.
Nos próximos três meses, dificilmente haverá alterações profundas neste quadro, mesmo com a anunciada saída de Ciro Gomes da disputa, com um desfecho previsto para estes dias. Daqui até a Copa do Mundo da África do Sul, as atenções dos brasileiros estarão mais voltadas para o futebol do que para a política. Entre Serra e Dilma, o país parece mais interessado em brigar com Dunga para que ele convoque logo Neymar e Ganso, as novas unanimidades nacionais.
A terceira fatia do eleitorado, que no momento não está com Serra nem com Dilma, e é quem vai decidir a parada no final, só costuma despertar para a disputa sucessória a partir de agosto, quando começa o horário político no rádio e na televisão. Por isso mesmo, o bom senso recomenda que, quanto menos marola o governo fizer agora, com o presidente Lula se dedicando mais à rotina administrativa do que à campanha, ainda mais num ano em que a economia voltou a crescer, melhor será para ele mesmo e a sua candidata.
O normal em qualquer embate polarizado entre duas candidaturas é que o governo, se bem avaliado, jogue na defesa e, a oposição, sem outra escolha, vá ao ataque. Até agora, porém, nos primeiros lances da pré-campanha, está acontecendo exatamente o contrário, com o presidente Lula sempre na ofensiva e Serra fingindo que não é com ele.
Os leitores teriam alguma outra explicação para a pergunta que faço no título?
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E LULA engoliu a oposição...

A política brasileira produziu um fenômeno único na América Latina e talvez no mundo: o carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua administração, que gozam de 84% de popularidade depois de seis anos de governo, engoliram a oposição. E não o fizeram com métodos antidemocráticos, mas sim apropriando-se de suas bandeiras. Já se sabia que Lula é um gênio político, que soube vencer as reticências no núcleo do seu próprio partido, o Partido dos Trabalhadores. De fato, dispõe-se a eleger uma mulher, a ministra Dilma Rousseff, como sua sucessora na candidatura à Presidência em 2010, apesar de ela nunca ter disputado eleições e não ser um personagem excessivamente grato ao PT. Mas o que ninguém jamais imaginou é que ele seria capaz de eliminar democraticamente a oposição. Tanto a de direita como a de esquerda.

Como conseguiu? Com uma política que, pouco a pouco, foi escavando o chão sob os pés dos seus opositores.

Cortou as asas da direita mediante uma política macroeconômica neoliberal que está lhe proporcionando bons resultados nestes momentos de crise financeira mundial graças às reservas acumuladas.

Ao mesmo tempo, pôs rédea curta nas pretensões de alguns dos movimentos sociais mais radicais, como o dos Sem Terra (MST), cujas ações têm criticado tachando-as de ilegais e instando-os a respeitar a lei em vigor.

E manteve uma política de meio ambiente das mais conservadoras, algo que agrada aos latifundiários e aos grandes exportadores, que formam o núcleo mais direitista do Congresso.

Também freou as esquerdas. Conseguiu fazer calar a esquerda minoritária com uma política voltada para os estratos mais pobres do país, o que fez com que seis milhões de famílias passassem às fileiras da classe média baixa, abandonando seu estado de miséria atávica.

Abriu o crédito aos pobres, que agora, com pouco dinheiro, podem abrir uma conta no banco e ter um cartão de crédito - o que os converte em partícipes da roda da economia nacional.

Para a outra esquerda, a moderada, também tornou as coisas difíceis. Hoje em dia, para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a agremiação oposicionista com maiores possibilidades de ganhar as próximas eleições porque conta com dois grandes candidatos (os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves), é mais difícil fazer oposição. Os dois aspirantes do PSDB sabem que não poderão ser eleitos contra Lula. Por isso, só falam, como acaba de fazer Aécio Neves, de uma era "pós-Lula", com um projeto de nação que aporte algo novo ao projeto do presidente, que já goza do consenso da grande maioria do país.

Desde o primeiro dia de sua chegada ao poder, Lula tem mantido Henrique Meirelles, do PSDB, como presidente do Banco Central. Conservou e ampliou o projeto social "Bolsa Escola", criado pelo PSDB, batizando-o como "Bolsa Família". Esse plano ajuda hoje 12 milhões de famílias e nenhum partido da oposição se atreveria a criticá-lo. Desde seu primeiro mandato, Lula não só demonstra ter sabido congregar apoios de 12 partidos ao seu governo, como até o momento logrou manter amizade com os candidatos opositores Serra e Neves.
Ambos, além disso, desfrutam de boas relações com o PT, e inclusive não descartam governar junto ao partido de Lula se chegarem ao poder.

Mas não há realmente espaço para a oposição no Brasil? Porque, se assim fosse, haveria quem considerasse isso um grave obstáculo para uma autêntica democracia. Poderia haver, segundo vários analistas políticos, como Merval Pereira, mas o problema está no fato de que a oposição se assustou com a popularidade de Lula. Há até políticos opositores, sobre tudo dos governos locais, que buscam uma foto junto a Lula para ganhar pontos com seu eleitorado.

Se a oposição desejasse, dizem os especialistas, poderia exigir de Lula que levasse a cabo as grandes reformas de que este país ainda necessita para decolar na cena mundial, como a reforma política (é possível governar com 30 partidos no Congresso?); a fiscal (Brasil é um dos países com maior carga tributária: roça os 40%); a de Segurança Social (Lula só a realizou em parte e, apesar de um escândalo de subornos a deputados para que votassem a favor, ficou pequena); a agrária (não saiu do papel); a da educação (no Brasil ainda não é obrigatório o ensino secundário e a qualidade deste é considerada como das piores no mundo); e, por último, a penitenciária (os suicídios dos presos aumentaram no ano passado em cerca de 40%).

Artigo publicado no jornal El Pais
JUAN ARIAS é jornalista.
© El País.

Agradecimentos!

Agradeço, de coração, a comadre Ozita e a meus irmãos Ruth Helena e Walter Vaz Jr. pelo apoio, no Encontro Estadual. Walter fotografou e Ruth filmou. Sem eles não seria possível tudo o que está aqui no blog!
Bjs e valeu!