Faltam.....

A humanização de Dilma e o PAC 2

Por Raphael Bruno

Os últimos dias da pré-candidata do PT à sucessão presidencial, Dilma Rousseff, nos quadros do governo Lula, foram marcados por duas abordagens políticas que devem se intensificar na medida em que a campanha avançar. Ambas fazem parte da tática eleitoral concebida pelos articuladores petistas para impulsionar a candidatura da ex-ministra da Casa Civil. Uma, cada vez mais explorada, é a “humanização” da candidata. Desde que Dilma foi diagnosticada com um câncer linfático e teve que submeter-se a tratamento contra a doença, aliados enxergaram no infortúnio uma oportunidade para demonstrar a faceta lutadora e aguerrida da então ministra no campo pessoal, tendo em vista que estas características já se destacavam no campo político.

A mudança, planejada para amenizar a imagem de sisuda ostentada por Dilma até então, é gradual. Começou pela adoção de um tom mais leve em entrevistas, no cumprimento de agendas oficiais e, principalmente, em reuniões de articulação com aliados. Ficou clara no discurso de despedida da ministra do governo, permeado, em seus pontos mais agudos, pela voz embargada e contenção de lágrimas. E deve se aprofundar até outubro, tendo em vista que a campanha petista planeja reservar parte dos programas de propaganda eleitoral para apresentar a ser humana Dilma ao brasileiro: suas raízes regionais, gostos pessoais, peculiaridades e histórico familiar.

A aposta na humanização é justificável não só para criar uma contraposição ao perfil mais conhecido da ministra. A simples fama de “durona”, por si só, não pode ser traduzida como uma fragilidade eleitoral. A tática é, na verdade, uma opção coerente com a dinâmica dos processos de decisão de voto contemporâneos. Sob o impacto da midiatização das campanhas, do exacerbado individualismo e do enfraquecimento das divergências programáticas mais significativas entre as forças partidárias protagonistas, as características pessoais dos candidatos se consolidaram como um dos principais critérios utilizados pelo eleitor no momento de definir o voto. Logo, convém ao interessado em atrair o sufrágio popular que o conjunto de elementos associados a sua personalidade, estilo e forma de se relacionar e comunicar seja percebido como um atributo positivo por parte do eleitorado.

O chamado carisma, muitas vezes, é utilizado de maneira grosseira em explicações simplificadoras de resultados políticos muito mais complexos do que aqueles derivados da imagem pessoal de determinado líder. Isso não significa, contudo, que não tenha papel fundamental a desempenhar em uma campanha presidencial. O PT, talvez mais do que qualquer outro partido brasileiro, sabe bem disso. Entende que não há como desvincular, ao menos não em totalidade, seu sucesso eleitoral da estrela maior do partido, o presidente Lula. E que muito da capilaridade que Lula consolidou junto ao eleitorado, hoje, pode ser explicada pela capacidade do presidente de se dirigir diretamente às massas populares.

De maneira complementar, o outro elemento que o campo governista tentou realçar na despedida de Dilma foi, justamente, o lado mais gerencial da ex-ministra. Neste aspecto, contudo, talvez a estratégia do Palácio do Planalto não tenha sido tão eficiente. O propalado lançamento da segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), uma das principais plataformas de campanha da petista, expôs fragilidades da candidatura que a oposição certamente tentará explorar ao longo da campanha. Entre as principais, o caminho relativamente extenso que ainda precisa ser percorrido para que a primeira versão do programa possa ser apresentada como concluída, as lacunas na transparência do programa e no monitoramento de sua execução e a inclusão, no conjunto da nova etapa, de projetos e iniciativas governamentais tão amplas e variadas que aparentemente desconexas e potencialmente desconfiguradoras de objetivos. Antes, o PT temia que Dilma fosse atacada na campanha como uma técnica de perfil administrativo sem a habilidade política ou humana necessária para a condução de um país como o Brasil. Em uma eleição acirrada como a que se desenha, no entanto, os flancos abertos a despertarem inquietações se alteram velozmente.
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E LULA engoliu a oposição...

A política brasileira produziu um fenômeno único na América Latina e talvez no mundo: o carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua administração, que gozam de 84% de popularidade depois de seis anos de governo, engoliram a oposição. E não o fizeram com métodos antidemocráticos, mas sim apropriando-se de suas bandeiras. Já se sabia que Lula é um gênio político, que soube vencer as reticências no núcleo do seu próprio partido, o Partido dos Trabalhadores. De fato, dispõe-se a eleger uma mulher, a ministra Dilma Rousseff, como sua sucessora na candidatura à Presidência em 2010, apesar de ela nunca ter disputado eleições e não ser um personagem excessivamente grato ao PT. Mas o que ninguém jamais imaginou é que ele seria capaz de eliminar democraticamente a oposição. Tanto a de direita como a de esquerda.

Como conseguiu? Com uma política que, pouco a pouco, foi escavando o chão sob os pés dos seus opositores.

Cortou as asas da direita mediante uma política macroeconômica neoliberal que está lhe proporcionando bons resultados nestes momentos de crise financeira mundial graças às reservas acumuladas.

Ao mesmo tempo, pôs rédea curta nas pretensões de alguns dos movimentos sociais mais radicais, como o dos Sem Terra (MST), cujas ações têm criticado tachando-as de ilegais e instando-os a respeitar a lei em vigor.

E manteve uma política de meio ambiente das mais conservadoras, algo que agrada aos latifundiários e aos grandes exportadores, que formam o núcleo mais direitista do Congresso.

Também freou as esquerdas. Conseguiu fazer calar a esquerda minoritária com uma política voltada para os estratos mais pobres do país, o que fez com que seis milhões de famílias passassem às fileiras da classe média baixa, abandonando seu estado de miséria atávica.

Abriu o crédito aos pobres, que agora, com pouco dinheiro, podem abrir uma conta no banco e ter um cartão de crédito - o que os converte em partícipes da roda da economia nacional.

Para a outra esquerda, a moderada, também tornou as coisas difíceis. Hoje em dia, para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a agremiação oposicionista com maiores possibilidades de ganhar as próximas eleições porque conta com dois grandes candidatos (os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves), é mais difícil fazer oposição. Os dois aspirantes do PSDB sabem que não poderão ser eleitos contra Lula. Por isso, só falam, como acaba de fazer Aécio Neves, de uma era "pós-Lula", com um projeto de nação que aporte algo novo ao projeto do presidente, que já goza do consenso da grande maioria do país.

Desde o primeiro dia de sua chegada ao poder, Lula tem mantido Henrique Meirelles, do PSDB, como presidente do Banco Central. Conservou e ampliou o projeto social "Bolsa Escola", criado pelo PSDB, batizando-o como "Bolsa Família". Esse plano ajuda hoje 12 milhões de famílias e nenhum partido da oposição se atreveria a criticá-lo. Desde seu primeiro mandato, Lula não só demonstra ter sabido congregar apoios de 12 partidos ao seu governo, como até o momento logrou manter amizade com os candidatos opositores Serra e Neves.
Ambos, além disso, desfrutam de boas relações com o PT, e inclusive não descartam governar junto ao partido de Lula se chegarem ao poder.

Mas não há realmente espaço para a oposição no Brasil? Porque, se assim fosse, haveria quem considerasse isso um grave obstáculo para uma autêntica democracia. Poderia haver, segundo vários analistas políticos, como Merval Pereira, mas o problema está no fato de que a oposição se assustou com a popularidade de Lula. Há até políticos opositores, sobre tudo dos governos locais, que buscam uma foto junto a Lula para ganhar pontos com seu eleitorado.

Se a oposição desejasse, dizem os especialistas, poderia exigir de Lula que levasse a cabo as grandes reformas de que este país ainda necessita para decolar na cena mundial, como a reforma política (é possível governar com 30 partidos no Congresso?); a fiscal (Brasil é um dos países com maior carga tributária: roça os 40%); a de Segurança Social (Lula só a realizou em parte e, apesar de um escândalo de subornos a deputados para que votassem a favor, ficou pequena); a agrária (não saiu do papel); a da educação (no Brasil ainda não é obrigatório o ensino secundário e a qualidade deste é considerada como das piores no mundo); e, por último, a penitenciária (os suicídios dos presos aumentaram no ano passado em cerca de 40%).

Artigo publicado no jornal El Pais
JUAN ARIAS é jornalista.
© El País.

Agradecimentos!

Agradeço, de coração, a comadre Ozita e a meus irmãos Ruth Helena e Walter Vaz Jr. pelo apoio, no Encontro Estadual. Walter fotografou e Ruth filmou. Sem eles não seria possível tudo o que está aqui no blog!
Bjs e valeu!