Faltam.....

O PSDB teria vendido a PETROBRÁS

 

Presidente da estatal diz que o Lula salvou a estatal de ter partes vendidas, caso os tucanos vencessem a eleição

Roberval Angelo Schincariol e Tatiana Freitas - O Estado de S.Paulo
Seu orixá é Obaluaiê, o "dono da terra", como revelou à imprensa pela primeira vez nesta entrevista. Mas bem que o baiano José Sérgio Gabrielli poderia ser chamado de "príncipe do mar". Em seus quase quatro anos à frente da Petrobrás, ele anunciou a conquista da autossuficiência brasileira em petróleo (2006); a descoberta do pré-sal (2007-2008); e a consequente listagem da Petrobrás entre as maiores companhias de energia do mundo. O que para muitos críticos não passa de um golpe de sorte, para Gabrielli, que assumiu a liderança da maior companhia brasileira no lugar de José Eduardo Dutra, em abril de 2006, o sucesso da Petrobrás é fruto de uma política de governo e só foi possível graças à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e à sua reeleição em 2006. "O presidente Lula fez a diferença", disse em entrevista exclusiva à Agência Estado. Segundo Gabrielli, se o resultado das eleições tivesse sido outro, com a vitória de José Serra em 2002 ou de Geraldo Alckmin em 2006, a Petrobrás teria tomado outro rumo. "Partes da empresa poderiam ter sido privatizadas." Mas Gabrielli também acredita no destino. Segundo ele, "há muita sorte em encontrar petróleo". Mas não apenas isso. "Você não perfura um poço a 300 quilômetros de distância da costa e a milhares de metros de profundidade apenas confiando que Deus é brasileiro." Afinal, de acordo com a crença, Obaluaiê foi adotado e criado por Iemanjá, a "rainha do mar". A seguir, os principais trechos da entrevista:
A "Foreing Policy" publicou uma matéria recentemente questionando o novo marco regulatório do pré-sal, principalmente no que diz respeito à participação do Estado na Petrobrás. Citando os dois possíveis candidatos mais em evidência, a revista afirma que se o governador José Serra vencer as eleições presidenciais de 2010, ele vai tentar reverter isso. Já se a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sair vencedora, as empresas internacionais terão de recorrer à Justiça. O que o sr. tem a dizer sobre isso?
Que a Foreing Policy, uma revista americana, é uma think-tank liberal que tenta influenciar a opinião pública. Uma crítica sobre a presença do Estado em uma empresa vinda da Foreing Policy é normal. O contrário é que seria novidade. Acredito que a proposta do governo para o pré-sal claramente aumenta o papel do Estado. E isso é necessário e importante porque essa é a tendência mundial. E sempre foi na área do petróleo, que é um produto essencialmente vital e estratégico para a vida moderna.
Mas há exceções, como... Os Estados Unidos não estão ausentes da indústria do petróleo. O Estado americano pode não estar diretamente produzindo, mas está atuando fortemente via estoque regulador, via estímulo às suas empresas, via regulações. No caso brasileiro, me parece que a nova regulação reflete uma realidade distinta da antiga regulação. São diferenças importantes. A primeira é o acesso a capitais. Na década de 90, tínhamos um problema para termos acesso a capitais que hoje não existe. A outra é o acesso à tecnologia. Hoje a Petrobrás, em águas profundas, é a empresa que tem maior mobilização tecnológica e conhecimento, e opera 22% da produção de águas profundas no mundo.
Mas isso não é fruto de um longo processo?
Sim, vem num processo. Primeiro tem um processo de melhoria das condições macroeconômicas. Depois, do controle da tecnologia. E, terceiro, o risco da área exploratória é muito baixo. Hoje você tem essa situação bastante distinta. Anteriormente era uma lei voltada a ajudar e permitir que as empresas privadas capturassem todos os ganhos da atividade do petróleo.
O sr. acredita que se o presidente Lula não tivesse sido eleito em 2002 e reeleito em 2006, a Petrobrás teria chegado ao pré-sal no momento em que chegou? Essa pergunta é difícil de responder diretamente. Eu diria o seguinte: até 2003, a Petrobrás estava sendo preparada para ter um conjunto de atividades com muita eficiência em vários ramos e com pouco ganho no sistema como um todo e estava sendo inibida no crescimento do seu portfólio de exploração. A partir de 2003, os investimentos aumentam, a Petrobrás tem uma participação mais ativa nos leilões, redefine sua organização interna de forma a ter um fortalecimento das atividades corporativas no conjunto da companhia e acelera a renovação de seus quadros. Isso foi uma mudança de orientação política na Petrobrás. Se seria possível atingir sucesso com a política anterior é difícil dizer. Agora, que o sucesso atual depende das mudanças feitas, isso é certo. Evidentemente que há muita sorte em encontrar petróleo. Mas apenas sorte não é suficiente. Você não perfura um poço a 300 km de distância da costa e a milhares de metros de profundidade só confiando que Deus é brasileiro.
Se o resultado da eleição tivesse sido outro, qual caminho o sr. acha que Petrobrás teria tomado? Só posso reafirmar que a Petrobrás estava a caminho de se transformar numa empresa muito eficiente separadamente e que perderia a capacidade de integração entre as diversas áreas da companhia. Teria investimento e crescimento menores do que teve. Provavelmente teria menos preocupação com o controle nacional, portanto teria menos impacto no estímulo da indústria brasileira. Teria focado suas atividades em setores diferentes do que foram focados. E o resultado disso é difícil especular qual seria. Seria uma empresa diferente do que é hoje.
O sr. acha que ela poderia ter sido privatizada, por exemplo?
Como um todo, acho difícil. Mas partes dela poderiam (ter sido privatizadas). Seria difícil uma privatização total da Petrobrás, mas partes dela, sim.
Pelo atual valor de mercado, de cerca de US$ 200 bilhões, a Petrobrás é maior que muitos países da América do Sul. Quais sãos os planos da empresa para investimentos internacionais, principalmente nos países vizinhos?
Dos US$ 174 bilhões em investimentos (até 2013), US$ 16 bilhões estão reservados para a área internacional. A maior parte dessa quantia vai para os Estados Unidos. Nós temos nos Estados Unidos 270 blocos exploratórios no Golfo do México e uma refinaria. A nossa maior produção adicional internacional vem da Nigéria. Nosso investimento na América do Sul é em portfólio. Estamos crescendo na distribuição. Compramos redes de distribuição no Paraguai, Uruguai, Chile e Colômbia. Estamos concentrando nos investimentos na Argentina na área de exploração. Estamos iniciando atividades exploratórias no Uruguai. Estamos em processo de avaliação de descobertas de gás no Peru, atividades exploratórias na Colômbia. Basicamente nosso investimento na América Latina é um investimento de manutenção de nosso portfólio.
A saída do Irã foi realmente por motivos puramente técnicos como garante a Petrobrás?
Nós não saímos do Irã ainda. Tínhamos dois poços lá e o contrato terminou. Não entendo por que essa preocupação tão grande com o Irã. Ninguém da indústria do petróleo em sã consciência pode negar que o Irã é uma das maiores áreas de reservas de petróleo no mundo.
Nesse caso, é exatamente por isso a preocupação com o Irã...
Nós vamos manter nossa presença no Irã, mesmo que sem atividade prevista no país. Os poços que perfuramos estavam secos. Não encontramos nada. Paciência.
E para o Iraque, agora que as coisas parecem mais calmas por lá, a Petrobrás tem algum plano? Não temos absolutamente nada no Iraque. Eles têm lá as preferências deles. O Iraque tem contrato de serviço. E isso não interessa à Petrobrás.
A preocupação mundial com as mudanças climáticas não poderia inviabilizar o pesado investimento atual da empresa no pré-sal a longo prazo, tendo em vista que os países buscam combustíveis considerados limpos para substituir o petróleo?
Com um crescimento da demanda de apenas 1% ao ano em média até 2030, como preveem as pesquisas, haverá a necessidade de se adicionar entre 55 milhões e 65 milhões de barris por dia de produção. E isso praticamente para manter o consumo atual.
Mesmo considerando a entrada de combustíveis limpos? Sim. Por quê? Porque a economia vai crescer mais que 1% em média. E todo esse crescimento adicional leva em conta os novos combustíveis. De onde vem essa necessidade de 55 milhões a 65 milhões de barris? Do declínio da produção atual. Como há o declínio, haverá a possibilidade de repor esse petróleo.
Não se corre o risco de o preço do petróleo cair muito bem lá na frente com sua possível substituição?
Não. A nossa visão é a de que o petróleo vai cair, sim, mas em termos relativos. Hoje o petróleo representa cerca de 33% da matriz mundial. Lá por 2030, a commodity representará 28%. E quem vai substituir, na nossa visão? O carvão.
O carvão?
Sim, infelizmente, o carvão. E, consequentemente, em 2030, carvão, petróleo e gás natural vão continuar fornecendo 2/3 da matriz energética mundial.
Em quase 20 anos, nenhuma mudança?
Não. Para se ter ideia, os biocombustíveis terão aumento extraordinário neste período. Eles crescerão cerca de 100%.
Isso é uma boa notícia.
Você acha? Eles sairão de 0,4% da matriz energética para 0,9%. Grande diferença!
No blog da Petrobrás, o sr. reclama em um vídeo que os jornalistas perderam o interesse em perguntar sobre os biocombustíveis após o pré-sal...
(Risos) Isso porque vamos investir US$ 2,8 bilhões em biocombustíveis até 2013. Nossa capacidade de biodiesel dobrou. Tínhamos três usinas, com produção de cerca de 300 milhões de metros cúbicos, o que dobrará já no próximo ano. Estamos entrando no etanol, com a compra de participação em outras empresas.
Quais empresas?
Até o momento não temos nenhuma participação em etanol. Queremos comprar empresas o mais breve possível.
O sr. poderia fazer um balanço da Petrobrás nos últimos sete anos de administração petista?
A Petrobrás valia cerca de US$ 14 bilhões em 2003 e hoje vale cerca de US$ 210 bilhões. Hoje, temos um portfólio exploratório em crescimento no Brasil. A Petrobrás tem hoje 46% da sua força de trabalho com menos de nove anos de casa e 53% com mais de 19 anos. Houve uma renovação da força de trabalho dentro da empresa. A Petrobrás fortaleceu a sua estrutura corporativa. Entrou fortemente na área de biocombustíveis. Montou e consolidou a estrutura de gás natural no País. Em 2002 investia US$ 200 milhões por ano em refino. Hoje esse valor é mensal. Ampliou o market-share na BR (distribuidora). Comprou a Liquigás. É hoje a sexta maior empresa de energia do mundo e a segunda maior em petróleo, só perdendo para a Esso. Resumindo: um sucesso!
O sr. afirma então que a Petrobrás é o que é hoje por causa do presidente Lula?
O presidente Lula fez diferença (pausa). Acho que depende muito da orientação do governo, mas se a Petrobrás não tivesse capacidade de fazer, não seria o que é hoje. Mas o orientação clara do governo foi essa. A política de conteúdo nacional renovou a indústria do País. Temos hoje, com relação aos nossos investimentos, 74% de participação brasileira.
O governo vem sendo acusado pela oposição de usar o pré-sal como arma política para 2010...
A oposição tem de criticar sempre. Faz parte da democracia.
O sr. tem algum interesse político?
Não serei candidato, não pretendo ser candidato. Já fui candidato. A última vez em 1990.
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E LULA engoliu a oposição...

A política brasileira produziu um fenômeno único na América Latina e talvez no mundo: o carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua administração, que gozam de 84% de popularidade depois de seis anos de governo, engoliram a oposição. E não o fizeram com métodos antidemocráticos, mas sim apropriando-se de suas bandeiras. Já se sabia que Lula é um gênio político, que soube vencer as reticências no núcleo do seu próprio partido, o Partido dos Trabalhadores. De fato, dispõe-se a eleger uma mulher, a ministra Dilma Rousseff, como sua sucessora na candidatura à Presidência em 2010, apesar de ela nunca ter disputado eleições e não ser um personagem excessivamente grato ao PT. Mas o que ninguém jamais imaginou é que ele seria capaz de eliminar democraticamente a oposição. Tanto a de direita como a de esquerda.

Como conseguiu? Com uma política que, pouco a pouco, foi escavando o chão sob os pés dos seus opositores.

Cortou as asas da direita mediante uma política macroeconômica neoliberal que está lhe proporcionando bons resultados nestes momentos de crise financeira mundial graças às reservas acumuladas.

Ao mesmo tempo, pôs rédea curta nas pretensões de alguns dos movimentos sociais mais radicais, como o dos Sem Terra (MST), cujas ações têm criticado tachando-as de ilegais e instando-os a respeitar a lei em vigor.

E manteve uma política de meio ambiente das mais conservadoras, algo que agrada aos latifundiários e aos grandes exportadores, que formam o núcleo mais direitista do Congresso.

Também freou as esquerdas. Conseguiu fazer calar a esquerda minoritária com uma política voltada para os estratos mais pobres do país, o que fez com que seis milhões de famílias passassem às fileiras da classe média baixa, abandonando seu estado de miséria atávica.

Abriu o crédito aos pobres, que agora, com pouco dinheiro, podem abrir uma conta no banco e ter um cartão de crédito - o que os converte em partícipes da roda da economia nacional.

Para a outra esquerda, a moderada, também tornou as coisas difíceis. Hoje em dia, para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a agremiação oposicionista com maiores possibilidades de ganhar as próximas eleições porque conta com dois grandes candidatos (os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves), é mais difícil fazer oposição. Os dois aspirantes do PSDB sabem que não poderão ser eleitos contra Lula. Por isso, só falam, como acaba de fazer Aécio Neves, de uma era "pós-Lula", com um projeto de nação que aporte algo novo ao projeto do presidente, que já goza do consenso da grande maioria do país.

Desde o primeiro dia de sua chegada ao poder, Lula tem mantido Henrique Meirelles, do PSDB, como presidente do Banco Central. Conservou e ampliou o projeto social "Bolsa Escola", criado pelo PSDB, batizando-o como "Bolsa Família". Esse plano ajuda hoje 12 milhões de famílias e nenhum partido da oposição se atreveria a criticá-lo. Desde seu primeiro mandato, Lula não só demonstra ter sabido congregar apoios de 12 partidos ao seu governo, como até o momento logrou manter amizade com os candidatos opositores Serra e Neves.
Ambos, além disso, desfrutam de boas relações com o PT, e inclusive não descartam governar junto ao partido de Lula se chegarem ao poder.

Mas não há realmente espaço para a oposição no Brasil? Porque, se assim fosse, haveria quem considerasse isso um grave obstáculo para uma autêntica democracia. Poderia haver, segundo vários analistas políticos, como Merval Pereira, mas o problema está no fato de que a oposição se assustou com a popularidade de Lula. Há até políticos opositores, sobre tudo dos governos locais, que buscam uma foto junto a Lula para ganhar pontos com seu eleitorado.

Se a oposição desejasse, dizem os especialistas, poderia exigir de Lula que levasse a cabo as grandes reformas de que este país ainda necessita para decolar na cena mundial, como a reforma política (é possível governar com 30 partidos no Congresso?); a fiscal (Brasil é um dos países com maior carga tributária: roça os 40%); a de Segurança Social (Lula só a realizou em parte e, apesar de um escândalo de subornos a deputados para que votassem a favor, ficou pequena); a agrária (não saiu do papel); a da educação (no Brasil ainda não é obrigatório o ensino secundário e a qualidade deste é considerada como das piores no mundo); e, por último, a penitenciária (os suicídios dos presos aumentaram no ano passado em cerca de 40%).

Artigo publicado no jornal El Pais
JUAN ARIAS é jornalista.
© El País.

Agradecimentos!

Agradeço, de coração, a comadre Ozita e a meus irmãos Ruth Helena e Walter Vaz Jr. pelo apoio, no Encontro Estadual. Walter fotografou e Ruth filmou. Sem eles não seria possível tudo o que está aqui no blog!
Bjs e valeu!