Faltam.....

Veja, Recôncavo, Sertão e UFRB

Emiliano José
De Salvador (BA)
O pensamento conservador, à falta de argumentos mais consistentes para criticar empreendimentos que melhoram a vida do povo, busca sempre dizer que aquilo poderia ser muito melhor e já que não é melhor significa que não presta.
É assim que age a revista Veja quando se refere ao extraordinário crescimento do ensino superior que vem ocorrendo sob o governo Lula, que já conseguiu inaugurar 14 novas universidades federais. Como não há como contestar esse crescimento, como não há como comparar o governo Lula com o de Fernando Henrique Cardoso, então se trata de tentar desqualificar o que vem sendo feito. Foi o que fez a revista no exemplar de 7 de abril, numa matéria inconsistente, com um evidente viés ideológico, com um claríssimo objetivo político. É a campanha de Serra em pleno desenvolvimento, sacando-se, para isso, das aparentes armas objetivas do jornalismo.
De modo particular, quero me referir ao ataque sofrido pela Universidade Federal do Recôncavo. Soube que o repórter, ao entrevistar o reitor Paulo Gabriel, chegou a perguntar-lhe se ele achava que se justificava uma universidade no Sertão. É, no sertão. O repórter não sabia distinguir o Recôncavo Baiano, de tantas e magníficas histórias, um dos berços do País, do Sertão Baiano, também palco da construção do Brasil. A pergunta revelou ignorância e preconceito. Quem disse que uma universidade no Sertão não se justificaria? E por que não no Recôncavo? É o pensamento de nossa elite, com os olhos postados exclusivamente no Centro-Sul, que faz com que repórteres raciocinem assim, de modo tão preconceituoso. Criação de universidades no Nordeste não cabe.
Era assim que pensava a oligarquia baiana também. Durante décadas, orgulhava-se de o Estado contar com apenas uma instituição de ensino superior, a Universidade Federal da Bahia. Foi preciso chegarmos ao governo Lula, ao presidente operário, para que começássemos a valorizar efetivamente o ensino público superior e para, no caso da Bahia, superarmos a triste condição de contarmos somente com a UFBA.
O presidente-professor, FHC, não deu a mínima para a educação no País, e estava se lixando para a universidade pública. Disso, a Veja não fala. Insinua que seria muito melhor subsidiar as faculdades particulares do que criar novas universidades públicas, que só envolveria, na opinião de Veja, "altos gastos e baixa produtividade". O pensamento neoliberal ali fez e faz escola. De cima a baixo.
A criação da Universidade Federal do Recôncavo foi fruto de um impressionante movimento da sociedade civil de todos os municípios da região. Assembléias e mais assembléias sacudiram o Recôncavo, e ela se tornou uma realidade em 2005. Conta atualmente com 4.735 alunos na Graduação, 36 alunos no Doutorado, 159 em cursos de Mestrado. São, portanto, quase 5 mil alunos, e mais 435 professores, 552 servidores e 32 cursos até 30 de março de 2010. E a UFRB tem participado ativamente do programa Todos Pela Alfabetização (Topa), do governo da Bahia, formando mais de 2.200 alfabetizadores e coordenadores de turmas.
Uma pergunta inocente: não seria o caso de o repórter se preocupar com esses dados, perguntar sobre eles, ao menos informar os leitores sobre os números, mesmo que os distorcesse, como é da rotina de Veja? Não, mas aí ficaria evidente o benefício que a UFRB traz à população, ao Recôncavo, à Bahia, ao Brasil. E a pauta naturalmente não pedia isso. Seguia a linha Ali Kamel, do teste de hipóteses. Não importa a realidade. Importa o que a pauta pede. Os fatos que se danem.
O repórter não quer saber de estudantes, de professores, de funcionários, do significado de tudo isso para a população e para toda a região. Não quer porque é orientado para não querer. Segue a pauta, tal e qual lhe foi entregue. Tem que provar a hipótese da chefia.
E talvez coubesse outra pergunta inocente: e será que uma instituição universitária como a UFRB surge assim do nada, de repente, se afirma com a rapidez de uma fábrica, como uma linha de montagem? Claro que não. Quem conhece uma instituição acadêmica sabe que ela tem que dar passos, às vezes não tão rápidos, para se consolidar. Para criar uma cultura em torno dela. Mas, para que perguntar isso, refletir sobre isso, se o importante é tentar desqualificar aquilo que o governo Lula está fazendo?
Penso que a UFRB, nesses poucos anos de existência, sob a direção do professor Paulo Gabriel, já conseguiu feitos impensáveis, como os próprios números que adiantamos indicam. E não são apenas aqueles números. A instituição está presente em Cruz das Almas, onde se localiza a Reitoria, Amargosa, Santo Antonio de Jesus e Cachoeira, municípios que somados totalizam quase 215 mil habitantes.
Chegará proximamente a Santo Amaro da Purificação, por decisão do ministro Fernando Haddad, e depois a Nazaré das Farinhas e Valença, que estavam originalmente no projeto da instituição. O mínimo de sensibilidade indicaria o quanto foi importante para essa região da Bahia a criação da UFRB. Mas, não. À Veja o que interessa é a campanha do Serra, é desqualificar qualquer ação do governo Lula, e não importa que desonestamente, e não importa que contrariando os padrões mais elementares do bom jornalismo.
Certamente, o repórter, seguindo a pauta, não queria saber qual o impacto social, econômico, cultural que uma universidade traz a uma região. Sem exagero, a UFRB está mudando o Recôncavo. Cruz das Almas foi a segunda cidade da Bahia com maior saldo de empregos no primeiro quadrimestre de 2009, perdendo somente para Salvador, e isso seguramente tem a ver com a presença da UFRB. Cachoeira hoje é outra cidade, belíssima, com a impressionante recuperação de prédios históricos decorrente da chegada da UFRB. A região ganhou dinamismo e vitalidade. O comércio foi alavancado, o ramo de materiais de construção cresceu. E universidade representa cultura. E educação. E o resgate do sentimento do Recôncavo, aumento da auto-estima, identidade coletiva que se afirma.
E a alegria da juventude, que não precisa viajar para outros rincões para estudar. E há estudantes de vários cantos do País chegando à UFRB. Mas que interesse tem Veja nisso? Nenhum. Quer apenas fazer campanha, não importa tenha de mentir, escamotear, deixar o jornalismo de lado. Sorte que os estudantes, os professores, os servidores, todo o Recôncavo, o orgulhoso Recôncavo de hoje, sabem da importância da universidade, da UFRB que veio para ficar. Ela é bem maior do que as mentiras e omissões de Veja.
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E LULA engoliu a oposição...

A política brasileira produziu um fenômeno único na América Latina e talvez no mundo: o carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua administração, que gozam de 84% de popularidade depois de seis anos de governo, engoliram a oposição. E não o fizeram com métodos antidemocráticos, mas sim apropriando-se de suas bandeiras. Já se sabia que Lula é um gênio político, que soube vencer as reticências no núcleo do seu próprio partido, o Partido dos Trabalhadores. De fato, dispõe-se a eleger uma mulher, a ministra Dilma Rousseff, como sua sucessora na candidatura à Presidência em 2010, apesar de ela nunca ter disputado eleições e não ser um personagem excessivamente grato ao PT. Mas o que ninguém jamais imaginou é que ele seria capaz de eliminar democraticamente a oposição. Tanto a de direita como a de esquerda.

Como conseguiu? Com uma política que, pouco a pouco, foi escavando o chão sob os pés dos seus opositores.

Cortou as asas da direita mediante uma política macroeconômica neoliberal que está lhe proporcionando bons resultados nestes momentos de crise financeira mundial graças às reservas acumuladas.

Ao mesmo tempo, pôs rédea curta nas pretensões de alguns dos movimentos sociais mais radicais, como o dos Sem Terra (MST), cujas ações têm criticado tachando-as de ilegais e instando-os a respeitar a lei em vigor.

E manteve uma política de meio ambiente das mais conservadoras, algo que agrada aos latifundiários e aos grandes exportadores, que formam o núcleo mais direitista do Congresso.

Também freou as esquerdas. Conseguiu fazer calar a esquerda minoritária com uma política voltada para os estratos mais pobres do país, o que fez com que seis milhões de famílias passassem às fileiras da classe média baixa, abandonando seu estado de miséria atávica.

Abriu o crédito aos pobres, que agora, com pouco dinheiro, podem abrir uma conta no banco e ter um cartão de crédito - o que os converte em partícipes da roda da economia nacional.

Para a outra esquerda, a moderada, também tornou as coisas difíceis. Hoje em dia, para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a agremiação oposicionista com maiores possibilidades de ganhar as próximas eleições porque conta com dois grandes candidatos (os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves), é mais difícil fazer oposição. Os dois aspirantes do PSDB sabem que não poderão ser eleitos contra Lula. Por isso, só falam, como acaba de fazer Aécio Neves, de uma era "pós-Lula", com um projeto de nação que aporte algo novo ao projeto do presidente, que já goza do consenso da grande maioria do país.

Desde o primeiro dia de sua chegada ao poder, Lula tem mantido Henrique Meirelles, do PSDB, como presidente do Banco Central. Conservou e ampliou o projeto social "Bolsa Escola", criado pelo PSDB, batizando-o como "Bolsa Família". Esse plano ajuda hoje 12 milhões de famílias e nenhum partido da oposição se atreveria a criticá-lo. Desde seu primeiro mandato, Lula não só demonstra ter sabido congregar apoios de 12 partidos ao seu governo, como até o momento logrou manter amizade com os candidatos opositores Serra e Neves.
Ambos, além disso, desfrutam de boas relações com o PT, e inclusive não descartam governar junto ao partido de Lula se chegarem ao poder.

Mas não há realmente espaço para a oposição no Brasil? Porque, se assim fosse, haveria quem considerasse isso um grave obstáculo para uma autêntica democracia. Poderia haver, segundo vários analistas políticos, como Merval Pereira, mas o problema está no fato de que a oposição se assustou com a popularidade de Lula. Há até políticos opositores, sobre tudo dos governos locais, que buscam uma foto junto a Lula para ganhar pontos com seu eleitorado.

Se a oposição desejasse, dizem os especialistas, poderia exigir de Lula que levasse a cabo as grandes reformas de que este país ainda necessita para decolar na cena mundial, como a reforma política (é possível governar com 30 partidos no Congresso?); a fiscal (Brasil é um dos países com maior carga tributária: roça os 40%); a de Segurança Social (Lula só a realizou em parte e, apesar de um escândalo de subornos a deputados para que votassem a favor, ficou pequena); a agrária (não saiu do papel); a da educação (no Brasil ainda não é obrigatório o ensino secundário e a qualidade deste é considerada como das piores no mundo); e, por último, a penitenciária (os suicídios dos presos aumentaram no ano passado em cerca de 40%).

Artigo publicado no jornal El Pais
JUAN ARIAS é jornalista.
© El País.

Agradecimentos!

Agradeço, de coração, a comadre Ozita e a meus irmãos Ruth Helena e Walter Vaz Jr. pelo apoio, no Encontro Estadual. Walter fotografou e Ruth filmou. Sem eles não seria possível tudo o que está aqui no blog!
Bjs e valeu!