Faltam.....

As perversas circunstâncias

O governo do presidente Lula se viu obrigado a fazer aliança com o que há de pior no Congresso, a fim de aprovar as medidas que considera necessárias ao país. Conforme chegou a confessar, se Jesus governasse o Brasil, teria que fazer aliança com Judas. Podemos entender o desabafo do presidente.
Em recente jantar na fabulosa residência do suplente de senador Gim Argello, segundo os jornais, a ministra Dilma Rousseff foi aconselhada pelo senador Fernando Collor a conversar pessoalmente com o deputado Roberto Jefferson, a fim de obter o apoio oficial do PTB à sua candidatura à sucessão.
O suplente Gim Argello apregoa em Brasília sua amizade com a candidata, da mesma forma que alardeia sua riqueza, multiplicada, como tantas outras fortunas brasilienses, nos últimos 20 anos. Seu rápido enriquecimento é até mais recente: de acordo com a revista IstoÉ, iniciou-se depois de ter sido eleito deputado distrital em Brasília, há 11 anos. Argello está sob processo judicial, acusado de ter participado de um negócio milionário com terras públicas do Distrito Federal.
Admitamos que, na chefia do governo, o presidente Lula se veja obrigado a engolir sapos repulsivos, mas talvez não seja prudente à sua candidata aceitar conselhos como os de Collor, nem receber homenagens como as que lhe ofereceu Argello. As pessoas bem informadas e influentes de Brasília, que acompanham as atividades de Argello, receberam, aturdidas, a notícia desse jantar.
A campanha eleitoral deste ano vai, queira-se ou não, avançar fundo na questão da moral política. É um engano dos marqueteiros supor que aos pobres não interessa o discurso ético. Entre outros grandes benefícios do atual governo houve o de – ao libertar os mais pobres da dependência com relação aos chefes locais – ampliar a sua percepção do certo e do errado em matéria política. Mesmo que nos abstivéssemos dos juízos morais, haveria que se considerar a clássica relação entre os custos e os benefícios. A companhia de Jefferson, Collor e Argello compensará as restrições do eleitorado, mormente depois dos ataques que virão, certamente dos adversários, em plena campanha, mediante os blogs, o YouTube, o Twiter, os torpedos dos celulares?
No passado, as campanhas eleitorais se faziam por correspondência. Tanto no Império quanto na República Velha, eram famosas as circulares que os candidatos faziam chegar aos grandes eleitores, ou seja, aos líderes naturais de suas comunidades. Além dessas circulares, havia os jornais impressos, que, em linguagem apaixonada e muitas vezes desabrida, tomavam partido político e excitavam o debate eleitoral. Hoje, e com uma influência imensurável, a internet está aí. Para o bem e para o mal. É necessário pensar que se trata de um sistema de comunicação sem regras claras e muitas vezes sem pudor. A rede serve de veículo para a difamação e a calúnia. Mas serve, da mesma forma, para a mobilização das massas, como temos visto em alguns episódios no exterior.
Há também a questão interna. Ao denunciar o suposto esquema Marcos Valério, Jefferson promoveu o tumulto no interior do PT, com a cassação de José Dirceu e o envolvimento de alguns outros parlamentares no processo em andamento no Supremo Tribunal Federal, que aceitou a denúncia do procurador-geral da República. Como esses atingidos pelo deputado Roberto Jefferson, antigo chefe da tropa de choque de Collor no Parlamento, irão sentir-se, tendo-os como seus companheiros de campanha nos próximos meses? Conseguirão atuar coordenadamente com esses senhores, como é necessário que ocorra em uma disputa eleitoral?
Muitos suspeitam que essa excitada aproximação de Collor, Jefferson e outros com o governo Lula e sua ministra tenha como objetivo sabotar a eleição da candidata do PT. Para outros, isso seria reconhecer, nesses senhores, a argúcia mental de Richelieu e de sua eminence grise, o capuchinho François Leclerc, a quem se atribui inteligência ainda superior à do imenso cardeal. Não acreditam que disponham de tanta argúcia.
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E LULA engoliu a oposição...

A política brasileira produziu um fenômeno único na América Latina e talvez no mundo: o carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua administração, que gozam de 84% de popularidade depois de seis anos de governo, engoliram a oposição. E não o fizeram com métodos antidemocráticos, mas sim apropriando-se de suas bandeiras. Já se sabia que Lula é um gênio político, que soube vencer as reticências no núcleo do seu próprio partido, o Partido dos Trabalhadores. De fato, dispõe-se a eleger uma mulher, a ministra Dilma Rousseff, como sua sucessora na candidatura à Presidência em 2010, apesar de ela nunca ter disputado eleições e não ser um personagem excessivamente grato ao PT. Mas o que ninguém jamais imaginou é que ele seria capaz de eliminar democraticamente a oposição. Tanto a de direita como a de esquerda.

Como conseguiu? Com uma política que, pouco a pouco, foi escavando o chão sob os pés dos seus opositores.

Cortou as asas da direita mediante uma política macroeconômica neoliberal que está lhe proporcionando bons resultados nestes momentos de crise financeira mundial graças às reservas acumuladas.

Ao mesmo tempo, pôs rédea curta nas pretensões de alguns dos movimentos sociais mais radicais, como o dos Sem Terra (MST), cujas ações têm criticado tachando-as de ilegais e instando-os a respeitar a lei em vigor.

E manteve uma política de meio ambiente das mais conservadoras, algo que agrada aos latifundiários e aos grandes exportadores, que formam o núcleo mais direitista do Congresso.

Também freou as esquerdas. Conseguiu fazer calar a esquerda minoritária com uma política voltada para os estratos mais pobres do país, o que fez com que seis milhões de famílias passassem às fileiras da classe média baixa, abandonando seu estado de miséria atávica.

Abriu o crédito aos pobres, que agora, com pouco dinheiro, podem abrir uma conta no banco e ter um cartão de crédito - o que os converte em partícipes da roda da economia nacional.

Para a outra esquerda, a moderada, também tornou as coisas difíceis. Hoje em dia, para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a agremiação oposicionista com maiores possibilidades de ganhar as próximas eleições porque conta com dois grandes candidatos (os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves), é mais difícil fazer oposição. Os dois aspirantes do PSDB sabem que não poderão ser eleitos contra Lula. Por isso, só falam, como acaba de fazer Aécio Neves, de uma era "pós-Lula", com um projeto de nação que aporte algo novo ao projeto do presidente, que já goza do consenso da grande maioria do país.

Desde o primeiro dia de sua chegada ao poder, Lula tem mantido Henrique Meirelles, do PSDB, como presidente do Banco Central. Conservou e ampliou o projeto social "Bolsa Escola", criado pelo PSDB, batizando-o como "Bolsa Família". Esse plano ajuda hoje 12 milhões de famílias e nenhum partido da oposição se atreveria a criticá-lo. Desde seu primeiro mandato, Lula não só demonstra ter sabido congregar apoios de 12 partidos ao seu governo, como até o momento logrou manter amizade com os candidatos opositores Serra e Neves.
Ambos, além disso, desfrutam de boas relações com o PT, e inclusive não descartam governar junto ao partido de Lula se chegarem ao poder.

Mas não há realmente espaço para a oposição no Brasil? Porque, se assim fosse, haveria quem considerasse isso um grave obstáculo para uma autêntica democracia. Poderia haver, segundo vários analistas políticos, como Merval Pereira, mas o problema está no fato de que a oposição se assustou com a popularidade de Lula. Há até políticos opositores, sobre tudo dos governos locais, que buscam uma foto junto a Lula para ganhar pontos com seu eleitorado.

Se a oposição desejasse, dizem os especialistas, poderia exigir de Lula que levasse a cabo as grandes reformas de que este país ainda necessita para decolar na cena mundial, como a reforma política (é possível governar com 30 partidos no Congresso?); a fiscal (Brasil é um dos países com maior carga tributária: roça os 40%); a de Segurança Social (Lula só a realizou em parte e, apesar de um escândalo de subornos a deputados para que votassem a favor, ficou pequena); a agrária (não saiu do papel); a da educação (no Brasil ainda não é obrigatório o ensino secundário e a qualidade deste é considerada como das piores no mundo); e, por último, a penitenciária (os suicídios dos presos aumentaram no ano passado em cerca de 40%).

Artigo publicado no jornal El Pais
JUAN ARIAS é jornalista.
© El País.

Agradecimentos!

Agradeço, de coração, a comadre Ozita e a meus irmãos Ruth Helena e Walter Vaz Jr. pelo apoio, no Encontro Estadual. Walter fotografou e Ruth filmou. Sem eles não seria possível tudo o que está aqui no blog!
Bjs e valeu!